10 de agosto de 2012

Louvor e ministério


O ministério de louvor é necessário? Ou se trata de uma dimensão do culto a cargo do pastor, como era antigamente?
Se entendemos que sem adoração o cristão não é cristão, então o ministério perde seu sentido, não havendo necessidade da função. Entretanto, não se pode desconsiderar a necessidade litúrgica das atividades de preparo, programação e condução do período de cânticos, chamada de “louvor” nas igrejas que o adotam (algumas mantêm a música congregacional e coral, o tempo de contrição, de poesia, dramaturgia, entre outros inseridos na liturgia do culto).

Essa reflexão nos leva a questões eclesiológicas não resolvidas na maioria das igrejas evangélicas de hoje. Talvez pelo fato de o “período de louvor” e o “ministro de louvor” serem fenômenos recentes.

Consideremos a definição do termo “ministro”. Trata-se, a meu ver, do cerne da questão. A palavra “ministração”, entendida como uma “função eclesiástica” ou como “unção espiritual” (envolvendo dons e ordenação), pressupõe um serviço cristão -- um serviço comunitário reconhecido e de proeminência. Portanto, um encargo de responsabilidade, por causa da liderança que implica e de seu papel doutrinador. E também, o outro lado da moeda, pelo seu poder de escandalizar (má influência).
Parece não haver dúvida sobre a importância e responsabilidade daquele que conduz a liturgia do culto. Porém, não me parecem tão claras aquela do tecladista, do operador da mesa de som, do iluminador etc. Serão todos “ministros” no sentido aqui usado? A distinção surge por causa do poder de influência. O guitarrista não teria a mesma visibilidade do solista; os “back vocals” não precisariam de um bom testemunho de vida cristã como o “ministro”.
Eis a questão: serão todos ministros como o é o pastor, o presbítero, o diácono ou o professor? Ou deve haver uma seleção graduada, conforme o cargo? Por exemplo, deve-se exigir menos preparo e testemunho de vida do diácono (encarregado do exercício da misericórdia e da assistência social) do que do presbítero (encarregado da oração e do ensino)? Semelhantemente, exigiríamos menos do baterista do que do irmão que conduz a adoração? A ponto, talvez, de não se exigir um testemunho de conversão ou um período de convívio para conhecimento?

Com a multiplicação dos “ministérios” necessários ao funcionamento das grandes igrejas, temo que muito da “qualidade” do serviço seja esquecida. Porém, em comunidades pequenas pode ocorrer o contrário: “Se não usarmos ‘o que temos’, ficaremos sem a ministração”. Em qualquer dos casos, a igreja corre o risco de ser conduzida por bons artistas sem experiência cristã. Já não são incomuns aquelas frases de tom piedoso e teologia desastrosa aprendidas em programas de televisão ou em redes sociais.
Minha posição a esse respeito é, ao mesmo tempo, tolerante e radical (que busca a raiz). Penso que a ministração na igreja é de responsabilidade exclusiva dos cristãos (a critério de sua liderança). A responsabilidade -- bem como o conhecimento bíblico e a maturidade cristã -- deve crescer, de acordo com o poder de influência do líder. Entendo também que cabe aos pastores do rebanho permanente cuidado a esse respeito. Espinhosa incumbência essa.

Por Rubem Amorese
Fonte: Ultimato Online